sábado, 29 de março de 2008



Da selecção natural


há coisas que não resistem à passagem do tempo, ao excesso de silêncio.
outras sim, até demais, e fazemos por não acercar-nos delas.




while you make pretty speeches
i'm being cut to shreads
*




* Radiohead






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posted by saturnine | 18:58 | 3 Comentários


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So far, so good


23 de Fevereiro de 2008: Richard Hawley, Festival para Gente Sentada

26 de Março de 2008: Portishead, Coliseu do Porto

22 de Abril de 2008: Nick Cave, Coliseu do Porto

11 de Maio de 2008: The National, Aula Magna


28 de Maio de 2008: Cat Power, Coliseu do Porto





os apêndices: não ter que pagar bolha para ver, sem saber de antemão, A Hack And A Hacksaw. ter o bilhete mais perfeito possível para The National (primeira fila das doutorais, ao centro). afigurar-se a possiblidade de Leonard Cohen e Bob Dylan lá mais para o verão, sabe-se lá que mais boas surpresas. qualquer dia tenho os sonhos todos realizados e estarei um passo mais próxima de me tornar uma pessoa verdadeiramente insuportável. respect.




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posted by saturnine | 18:10 | 5 Comentários


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sexta-feira, 28 de março de 2008



Meu pequeno animal anti-social (crónica de um amor profundo)


eu esperei 10 anos pelos Portishead. nesses 10 anos, eu frequentei os jardins das Belas-Artes, apaixonei-me por pessoas, desapaixonei-me das pessoas, atravessei o Atlântico, morri uma ou duas vezes, mudei de casa, mudei de emprego, acabei um curso, acabei relações, fiz-me saturnina, fiz-me citrina, passei a gostar de desgraçadinhos à guitarra como o Townes Van Zandt, fui a festivais, vi por dentro o inverno transmontano, estive cativa da serra e cativa do inferno e depois regressei. 10 anos à espera deste exacto momento: as luzes baixam, acendem-se os focos azuis, soam os primeiros acordes soturnos de uma melodia (re)conhecida. eu tremo, o coração dispara, as lágrimas afloram. é tudo perfeito e é tal e qual como eu imaginei durante longos 10 anos: "Roads". 10 anos de memórias, afectos, caem-me em cima em desmoronamento simultâneo.

eu já conhecia a Beth Gibbons ao vivo desde os tempos a solo com o Rustin Man. eu já sabia que ela é uma deusa, quase intocável, quase inatingível, um anjo caído, glorioso, de voz sublime, capaz de criar momentos únicos de extraordinária beleza. eu sabia, e mesmo assim, ela derrota-me mais uma vez. sempre tímida, sempre vagamente misantropa, entra em palco e está de costas para nós, não diz mais que duas ou três palavras durante uma hora e meia, abana-se ao som da música e sabemos que está num mundo só dela, dentro da sua cabeça. mas quando começa a cantar, a redenção: ela está a cantar só para mim. a postura não mudou. ambas as mãos a segurar o micro, expressão sofrida, emocionada. mas eu juro que a vi rir por duas vezes, ela riu-se e afastou o rosto e não desafinou uma única vez.

eu gosto do álbum novo. da sua força agressiva, da sua estranheza scottwalkeriana, da sua sonoridade rica, capaz de me forçar a entrar num imaginário cnematográfico. gosto deste amadurecimento, desta divergência, deste envelhecimento. eu fui lá também à espera de me emocionar com a "Glory Box", descobrir se tocariam a "Mourning Air", curtir descaradamente de cada vez que reconhecesse uma música - e isso tinha eu a certeza absoluta, conhecia-as todas. eu só não esperava um assombro como uma "Wandering Star" quase a cappella, com malabarismo vocal no final que me fez soltar um "foda-se!" cheio de fôlego quando se fez silêncio. e um final pré-encore brilhante, com o que seguramente poderá ter sido o melhor momento da noite: "Threads". o meu pequeno animal anti-social, amor profundo do meu coração, que tem qualquer coisa de comum com o Matt Berninger*, com o dedo espetado na testa gemendo "i'm worn, tired of my mind", terminando a gritar a plenos pulmões "tired and bored, tired and bored, tired and bored". também eu, querida Beth. também eu.




* "my mind's not right" [Abel] | The National





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quinta-feira, 27 de março de 2008



Inside job


agora percebo por que os bilhetes para os concertos andam a esgotar em prazos de duas semanas, quase ainda antes de haver publicitação oficial dos mesmos. há toda uma Máfia a controlar a cena. metade é gente da Fnac. a outra metade é o Fórum Sons.





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posted by saturnine | 23:53 | 0 Comentários


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segunda-feira, 24 de março de 2008



April was the cruelest month #1






This is just to say "hello"
And to let you know
I think of you from time to time
I know I never really knew you
But somehow I miss you
And wish that you'd stayed in my life

Making contact gets harder
As the silence grows longer
And isn't it only me
Who'd like us to see each other?
How I would hate to be a bother
The way we left it was you'd ring

I'm under no illusion
As to what I meant to you
But you made an impression
And sometimes I still feel the bruise
Sometimes I still feel the bruise


Now and then I stumble on
What I've misplaced but never lost
An ache I first felt long ago
Though you've appeared and disappeared
Throughout these past few years
I'd be surprised if you now showed

Making contact gets harder
As the silence grows longer
And why would you think of me
When you were not the one in love?
When you were not the dreamer?
When you were just the dream?


The Mountain Goats | Sometimes I still feel the bruise







«Se for consultar o psicanalista, confio em Deus que ele permita que se sente também ao nosso lado um dermatologista, pois sinto que tenho cicatrizes nas mãos por tocar em certas pessoas.»

J.D. Salinger






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posted by saturnine | 13:36 | 2 Comentários


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Ora portanto, isto também é um belo manifesto






sim, so need your love, so fuck you all é uma frase do Robbie Williams. e é brilhante. e é de uma canção deliciosamente irónica. e eu que veja aqui alguém a contrariar-me.





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sábado, 22 de março de 2008



Poema dum Funcionário Cansado


A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste

a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só


António Ramos Rosa






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posted by saturnine | 20:09 | 6 Comentários


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sexta-feira, 21 de março de 2008



exercício anual de sobrevivência #3


you must believe in spring
*


ritual do equinócio, duas reincidências: um disco do Bill Evans* e uma fotografia do Harry Zernike.




© Harry Zernike





este ano, com o coração ao pé da boca e a noite a abrir fundos poços nos meus olhos, celebrei a manhã com o José Tolentino de Mendonça:





A casa onde às vezes regresso

A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração.





* * *





Quatro tiros no coração

Certas manhãs chegava
esmagado pela luz
longo, frívolo, ofensivo
qualquer gesto aludia
a uma espécie de tremor
a tristeza daqueles que não pertecem
a lugar algum

vivia tudo num instante:
a solidão, os rancores
as alegrias dos outros
o silêncio do outono

nunca o amor tocara o seu corpo
com a intensidade do medo
tornou-se parte de um rito
nem perto, nem longe
da palavra justa

ele só pedia
«não me digam nada».





* * *





A noite abre meus olhos

Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes

A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco de porta entreaberta

o amor é uma noite a que se chega só.







à noite, acrescento:







A estrada branca

Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto

folhas tremiam
ao invisível peso mais forte

Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas
:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciarespor fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate



José Tolentino de Mendonça






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quinta-feira, 20 de março de 2008



Isto sim, é um manifesto






so need your love, so fuck you all






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posted by saturnine | 02:45 | 1 Comentários


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domingo, 16 de março de 2008



um lamento não é um queixume


e uma música não é um manifesto nem predicado existencial, mas uma afirmação:





Beth Gibbons & Rustin Man | Tom the Model



How can I forget your tender smile
Moments that I have shared with you
Our hearts may break
But they're on their way
And there's nothing I can do


Ohh...

So do what you're gotta do
And don't misunderstand me
You know you don't ever have to worry 'bout me
I'd do it again


I can understand that it can't be
Guess it's hard as you were meant for me
But I can't hide my own despair
I guess I never will


Ohh...

So do what you're gotta do
And don't misunderstand me
You know you don't ever have to worry 'bout me
I'd do it again

So tired of life
No fairytale
So hold your fire
'Cause I need you

Ohh...

Just do what you're gotta do
And don't misunderstand me
You know you don't ever have to worry 'bout me
I'd do it again


Do what you're gotta do
And don't misunderstand me
You keep going over every word that we've said
But you don't have to worry
About me






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posted by saturnine | 04:46 | 1 Comentários


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My private tortures





houve uma altura em que me levaram a crer que o tão longamente esperado novo álbum de Portishead se intitularia Saturnine. como é fácil de calcular, exultei. teria tudo a ver. trata-se da minha banda preferida dos meus 20 anos. são os meus anos a vestir só preto e antracite e sombras negras nos olhos, os anos dos jardins das Belas Artes, dos desenhos a carvão, do tempo em que todas as promessas pareciam ainda possíveis - mesmo circunscritas pela tristeza.

a música era um embalo, uma dor fina, um conforto amargo - mas reconfortante ainda assim. gloom. agora, parecer-me-ia que uma certa soturnidade revisitada bem poderia traduzir-se 10 anos depois em saturnidade. mas não. em Abril de 2008, teremos apenas um Third. naturalmente eu ainda não tenho o disco, mas se tivesse, e se o tivesse ouvido, diria desde já que é assombroso. que há sons estranhos e sombrios, perturbadores como garras a arranhar uma parede num espaço totalmente às escuras, e depois aquele mesmo encanto, quase um vislumbre de doçura, a mesma mágoa contida a transparecer na voz de Beth Gibbons.

poderia dizer ainda que "We carry on" é uma canção do camandro, que a "The Rip" lembra a Beth Gibbons outonal de "Out of season", que a "Plastic" é Portishead puro e duro num estádio de evolução muito avançado. se eu tivesse ouvido o disco, não teria gostado à primeira audição. teria constatado apenas umas 3 audições depois que nem tudo o que é bom é fácil, confirmando que na generalidade das vezes é sempre melhor um mau começo. paradoxal que seja. é que de decepções está o inferno - e nós aqui também - bem cheio.








I'm so tired, of playing
Playing with this bow and arrow
Gonna give my heart away
Leave it to the other girls to play


Glory Box






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sábado, 15 de março de 2008



Tríptico:


You came on like a punch in the heart




*




I feel like a vacuum cleaner –
a complete sucker!
It’s fucked up and he is a fucker




*





Don't disturb me as I sleep,
treat me gentle when I wake.
Don't disturb me as I sleep,
even though your body aches
even though your body aches
to serve at his command.
Between the wars
she still adores her ever-loving man.



- Nick Cave in Dig, Lazarus, Dig! -







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sexta-feira, 14 de março de 2008



No country for old men





quando acabei de ler A Estrada, de Cormac McCarthy, lembro-me de ter pensado duas coisas: primeiro, que não sabia se conseguiria voltar a pegar noutro livro tão cedo; segundo, que era perfeito se lhe pegassem para fazer bom cinema. na altura, não fazia ideia de que não só a máquina já estava em andamento, mas que também No Country for Old Men já estava a caminho. é um gajo estranho, este McCarthy. nada me faria pressupôr, se tivesse visto o filme sem conhecer o autor e o livro, que algo me moveria para que o lesse. não percebo. não há frases geniais. não há tiradas memoráveis que eu retire para o caderno de notas. não há parágrafos avassaladores que me esmagam com o espanto da evidência da natureza humana eloquentemente apresentada. há só uma ruminação lenta, quase imperceptível, dura, cáustica, que mói e mói e mói por baixo da pele até que de um momento para o outro, sem que nos tenhamos apercebido, nos vejamos perante um buraco cavado no corpo. é isso que este gajo faz. sem grandes merdas, as pessoas mais ou menos como elas são. as interrogações, as deambulações do espírito, a constatação óbvia de que se vive e que se morre e de que não há explicação para o bem e não há explicação para o mal. um homem como outro qualquer, à hora errada no lugar errado; um bom e velho xerife existencialista; um vilão com requintes maquiavélicos a roçar a perfeição. McCarthy entrega-se mais demoradamente à descrição da terra, às angústias, aos detalhes inúteis da narrativa. instala em nós, grão a grão, o vazio. os Coen naturalmente tiveram que condensar. o que se perdeu não fez perder de vista o que importava assinalar: a terra bruta e o que faz a quem nela habita; a figura de Anton Chigurh, sem passado, sem explicação, sem futuro. tónica na densidade: e aqui se encontra a ponte que mantém unidas estas duas faces da moeda (trocadilho-referência genial, caso não tenham reparado), duas obras extraordinárias. call it! (fuck)








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domingo, 9 de março de 2008




The tears are welling in my eyes again
I need twenty big buckets to catch them in
And twenty pretty girls to carry them down
And twenty deep holes to bury them in


Nick Cave | Hallelujah

















© Joana Linda








J'ai essayé, j'ai essayé
Mais j'ai
Le coeur sec et les yeux gonflés


Les Chansons d'Amour | Ma Memoire Sale





havia uma camisola de lã bege e uma camisola de algodão cinzenta. uma queda em mergulho que as misturou num abraço. havia também uns olhos verdes circundados de surpresa e um coração inflamado que eles olhavam. uma queda inevitável para dentro desses olhos. um disco, uma morte anunciada que não se soube antever. desde então, há algo que morre em mim todos os dias. os anos desmentem-nos. havia mais mentira que esperança nas promessas, e só eu não sabia. foda-se. tu disseste e eu acreditei, Nick. para quê? no such troubled cure for this troubled mind.

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I cannot have seen the light *











* Jason Molina





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sexta-feira, 7 de março de 2008



I'm so happy I could die




© Kurt Halsey







Richard Hawley, mestre de cerimónias neste festival de demónios que desfilam no meu quarto, The Ocean em repeat. o que este cinquentão arruinado faz é provocar estragos. um arremesso contra a distância, contra o poço sem fundo da noite. caio e quebro como quem embate contra um muro invisível. quando, chegado o auge, soa "here comes the wave", entro em queda vertiginosa, o coração acelera e subitamente pára, eu morro. depois lembro-me de alguém com quem estive num outro festival, para gente sentada: "quando ele tocar a The Ocean, ressuscitem-me".







post-it: «Habituar-se a impor-se regras, limites, fronteiras, na convicção plana de tudo se ir tornando mais simples a cada prova subjugada, para depender menos a cada dia, para deixar de tomar garantes das pessoas e das expectativas e das coisas. Embalar um striptease lento e gradual, exfoliando as camadas que deixámos acumular sobre a derme. Reduzir ao singelo, ao seminal, ao seminu. Não possuir para não perder, não experimentar para não precisar. Respirar apenas, sem apneias ou aplestias.» o Mark Sandman acreditava, Alice: someday there'll be a cure for pain.





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quinta-feira, 6 de março de 2008



I wear black on the inside





manifesto: I'm so happy I could die.






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Ces amours indigestes *





«Se for consultar o psicanalista, confio em Deus que ele permita que se sente também ao nosso lado um dermatologista, pois sinto que tenho cicatrizes nas mãos por tocar em certas pessoas.»

J.D. Salinger







* Ma Memoire Sale [Les Chansons d'Amour]





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Puta que pariu




© lbs | 2008






um silêncio devastador que circunscreve a noite, o medo, todos os lugares onde é impossível sossegar.






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posted by saturnine | 03:07 | 6 Comentários


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quarta-feira, 5 de março de 2008



carta obscena


mes jours en hiver passés a t'oublier
ou chaque seconde
est une poigneé de terre
ou chaque minute
est un sanglot
vois comme je lutte
vois ce que je perds en sang et en eau
en sang et en eau
*



como olharia um homem para a terra devastada? como olharia para o solo negro de cinza, uma morte ampla e duradoura entranhada no silêncio. para as suas mãos, sujas de culpa. como olharia esse homem para o rosto devastado de uma mulher, para os seus olhos apagados, afogados, devorados bocado a bocado pela feroz boca da tristeza?


devo confessar que fugi à pressa. evadi-me da cidade antes do previsto, acossada, querendo escapar a esses grandes braços espremendo o sossego da minha respiração. não tinha esperado um confronto assim, de peito aberto. fugi, portanto, de coração nas mãos e tórax escancarado. naturalmente, fugi para evitar a progressão do ataque. o rasto insistente das tuas mãos a abrir-me este espaço entre as costelas. é que um dia eu não aguento mais a desordem estuporada da vida. esse dia que pode ser um dia como o de hoje. hoje, morreu categorica e desastrosamente algo na parte mais relevante de mim. algo me diz que há um lugar desta cidade a que eu não poderei nunca mais regressar. só falta que as pequenas mortes se sucedam e produzam o seu alimento primordial: ouve-me/ que o dia te seja limpo e/ a cada esquina de luz possas recolher/ alimento suficiente para a tua morte [Al Berto]. hoje, tenho um braço que sangra, de uma ferida onde eu quis inscrever a tua ausência. um dia eu não aguento mais a desordem estuporada da vida. que dos subterrâneos se diga: "morreu de prolongada infecção amorosa".


* * *


desculpa-me se numa tarde de sol nos jardins do Palácio de Cristal nunca te disse que te tinha posto o coração nas mãos. desculpa-me anoitecer demais. desculpa-me ter riscado cinco pontinhos ...-.. numa página escondida de O Rosto de Deus antes de to devolver. desculpa-me ter acreditado demasiado no Nick Drake e na certeza dos teus abraços. desculpa a recusa. não sigo em frente. fico. de qualquer das formas, o coração já estava no prego. eu tenho um grande irreparável desgosto, e nenhum ventrículo grande o bastante que o esgote.


Être un corps je suis d'accord
T'offrir mes bras pourquoi pas
Mon lit ok encore
pour rire a salir les draps
mais je crains que pour tout ça
Tu doives entendre je t'aime
Tu doives entendre je t'aime

*


Les Chansons d'Amour






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posted by saturnine | 02:43 | 4 Comentários


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terça-feira, 4 de março de 2008



final cut: último exercício de anatomoescatologia


.


afinal
era só
um único desgosto
grande irremediável
dorido sangrador
comeu o espaço todo
agora
nem esgoto
nem coração.






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posted by saturnine | 12:29 | 1 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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